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Mostrando postagens de fevereiro, 2011

Adágio

Mas o que resta de mais difícil é saber que tu não existirias aqui comigo. Que, por mais que a afinação da corda esticada beirasse o canto do rouxinol, não haveria ouvidos disponíveis para apreciar. Essa nossa afinação, sintonia fina, aprendida e apreendida com o tempo - todo esse tempo tão nosso - e que, enfim, não soa mais alto que o silêncio das tardes tecladas. E o pior é a certeza de que, mesmo que a orquestra tocasse outra música, não dançarias comigo. E saber que os nossos saberes compartilhados jamais versarão juntos pelo limbo das ideias. E encarar o fato de que me queres assim, à distância. Nenhum toque, nenhum olhar. Apenas a imaginação dançando ao sabor de um beijo roubado, distante, em um raro momento no qual as cordas pararam de vibrar. E o mais impróprio é perceber que esse teu não-querer é o que me comove. Cada momento gasto comigo, com essa parte virtual de mim, me dizendo através do vento que me percebes, que me lês tal qual partitura, com olhos treinados, mas dis

Ser ou não ser... solitário (parte 2)

(Inspiração by Kadu Lago) Relembrando, a pergunta original foi: “ Será que realmente é impossível ser feliz sozinho???” Falei da solidão, do estar sozinho. Agora é o momento de falar do ser solitário. Ser solitário não é uma condição social, é um estado de espírito. Solitário é aquele que não sente qualquer necessidade do outro. Solitário é aquele que, em termos gerais, se basta. Ele pode ter ou não amigos, parentes, amantes. Não importa, pois essas figuras são, de certa forma, descartáveis. Pessoas que passam por sua vida não deixam marcar mais do que momentâneas, se é que deixam alguma marca. E a saudade ou a dor o atingem mais até do que às pessoas comuns, sociáveis. Todavia, mesmo com toda a intensidade de um relâmpago cortando o céu, esses sentimentos são rápidos, acabam rápido. Abalam muito, mas passam! E o que fica é a força renovada de um ser auto-suficiente, indiferente. Indiferença. Essa é a acusação recorrente do mundo ao solitário de alma. Alguém ne

Ser ou não ser... solitário (parte 1)

(Inspiração by Kadu Lago) A pergunta original foi: “ Será que realmente é impossível ser feliz sozinho???” Tenho que começar por Schopenhauer. “ Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre”. Estar sozinho e ser solitário são coisas absolutamente distintas. Sim, vou explicar. Aguentem. Solidão é estar sozinho, sem a companhia de outro ser, pensante ou não. Solidão é o que sentimos quando conversamos com as panelas e sorrimos para a novela. Muito necessária essa condição para colocar as ideias em ordem, o trabalho em dia ou a louça no lugar. Contudo, depois do período de acertos internos, vem a sensação de que ninguém nos ama. É quando queremos trocar bobagens verbais, ou apenas uma companhia pra assistir tv. A maioria de nós consegue suprir essa necessidade do outro no convívio trivial com a família, com amigos, par romântico, estra

A Tríplice da Morte

Pensem por um momento. Se a máxima fosse verdadeira, fatalista. Se, de fato, escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore fossem os três passos obrigatórios rumo ao falecimento. Se nós só pudéssemos morrer ante o cumprimento das três etapas. Se não adiantasse velhice, doença ou suicídio. O mundo, com certeza, seria diferente. Teríamos muito menos árvores. Leríamos livros muito mais raros. Crianças, nós as teríamos às pencas, como é. Pois que se pode fugir à morte, não ao orgasmo. Resultado inevitável. Oxigênio poluído, cultura escassa, superpopulação. Algo de semelhante nessa supra-realidade? Via das dúvidas, não pretendo plantar árvore alguma antes dos meus 80 anos...

A Resposta

Não importa para qual pergunta, para qual mal, para qual escolha. A resposta está sim, sempre, SEMPRE, dentro de nós. Acessar essa informação é a parte difícil. Por vezes, precisamos de ajuda. Mesmo que a resposta esteja ali dentro da mente, precisamos de ajuda para vê-la, tão sutil ela pode parecer. Esse auxílio bem-vindo pode ser de um amigo que nos sacuda, de uma atitude que tomam contra ou a favor de nós, de um profissional especializado em rastrear essas verdades que guardamos, de bolinhas coloridas que vêm em francos com tarja preta... Não importa. O importante é encontrar a resposta. E tenha certeza, se você realmente estiver disposto e souber como procurar, vai encontrá-la. Não se arrependa depois, pois a porta da loucura é sempre mais colorida...

Perdida

Estou – com certeza, estou – perdida. Quando há muito a escrever, é porque nada há. E eu tenho escrito demais. É possível escrever demais? É como pensar demais. É possível não pensar? E é quando eu digo: Sim, é! Cale-se, cérebro! ... Ainda estou ouvindo. Ainda estou perdida. Com certeza, estou perdida.

Medo de Quê?

Já escrevi sobre o medo antes. Parece um tema recorrente. Será que ainda não me livrei de todos? Certo, é uma pergunta retórica. Contudo, também é uma mentira. Não vim falar de medo, vim falar do oposto dele. Qual é o contrário de medo? Não, não é coragem. Coragem é aquilo que a gente usa pra ir adiante, pra tomar a frente, um rumo. Mas... e quando chegamos lá? Como se chama o sentimento quando tudo pelo que lutamos começa, finalmente, a acontecer? Devagar, bem lentamente, as peças vão se encaixando, a figura tomando forma sobre a mesa. Schopenhauer (adoro ele!) diz que “ a glória deve ser conquistada; a honra, por sua vez, basta que não seja perdida”. Honra e glória, as duas palavras que movem o mundo. Mente quem diz que solidariedade e altruísmo são mais importantes. Socialmente, são mais relevantes. Todavia, não conheço ninguém que não goste ou não se aproveite da fama. Mesmo os ermitões mais reclusos em suas cavernas úmidas aproveitam-se da publicidade a respeito deles para contin

In(exata)Existência

Não vou mentir. Às vezes, sinto que não existo. Apesar de todo esforço social, de toda exposição, toda falta de pudores. Talvez, eu tenha mesmo nascido invisível. Ou, quem sabe, vibro em alguma outra frequência. Mas o fato é irremediável. Preciso de esforço constante para que me percebam. Enfadonha tarefa esta, de forçar-se aos olhos dos outros. Um mísero segundo de descuido, de descanso, e as caras já se voltam para outra direção. É como se não houvesse ninguém ali. E esse ninguém sou eu, aos berros. Lastimável empenho jogado no lixo. Penso que perco muito tempo tentando me fazer notar. Se ao menos um par de olhos, qualquer par, sorrisse de volta. Mas, não. A invisibilidade é torturante. Falo para que ninguém responda, respondo para que ignorem. Todo um jogo de aparições fantasmagóricas e irrelevantes, na maioria. Já tentei a simpatia, o descaso, a agressividade, a eloquência. Funciona por um certo período e depois tudo volta ao vazio natural da indiferença. Vejo que as pessoas

Átomos e Firulas

Incrível como as coisas mais importantes acontecem e desmoronam num piscar de pestanas. Num segundo, está lá, com todas as flores e diamantes, champagne estourando atrás da rolha, dentes à mostra e todas as firulas da felicidade. No segundo seguinte, nada. E é nada mesmo! Caules murchos e sem pétalas, vidro estilhaçado, a taça quebrada, a lágrima salgada na língua. O vazio de uma perda assim, perda do que ainda não se tem, é inigualável. Nem a morte parece tão nada quanto o nada de nada ter. Especialmente, se a perda é mental, emocional, idealizada. E é tão difícil não idealizar o que está quase ao alcance da mão... tão perto que dá pra sentir o cheiro... Óbvio que o cérebro, esse soldado-amigo inseparável, avisa do perigo, tenta dissuadir de idealizar. Contudo, qual força temos de frear a imaginação, inimiga arqui do racional? E caímos no precipício do ilusório. Sonhamos. O pior é sempre descobrir que o sonho acaba. Mais uma vez terminado, quebrado em cacos de lágrimas cristaliza

Descoberta do Dia

Acabei de descobrir o que já sabia faz tempo. Desvendei o mistério, mapeei o labirinto. O mais incrível nessa descoberta, entretanto, foi descobrir que não descobri nada que eu já não soubesse. Constatação máxima da ociosidade da alma humana. A gente deixa assim o que incomoda muito, tentando ignorar aquela coisa que incomoda, na esperança de que ela se canse de incomodar e vá embora. É uma preguiça reativa, na qual a lei da ação não reage reação alguma. Inércia total de atitude. Ou inépcia. É aí, então, que o tempo se aproveita e vai passando como quem não quer nada. E, se a coisa que incomoda ficasse quieta, passaria ao largo também. Mas, a coisa insiste. Vira e mexe, se mostra presente, dá uma cutucada só pra lembrar que está lá, observando a gente. Depois, faz que nem era com ela e sai abanando o rabo. Não sem antes deixar um rastro de desgosto, de uma sutil e milimetrada sensação de humilhação. Humilhados, é assim mesmo que a gente se sente, porque sabe da coisa, vê a coisa,

O LIVRO DE ELI - A real necessidade de Deus

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Decidi escrever este texto porque estou indignada. Não levem, em todo caso, meu estado de raiva em consideração. Sou antirreligião, todos os que me conhecem, sabem. Contudo, pretendo versar sobre o filme O Livro de Eli e seu conteúdo massificador e estereotipado. Não gosto de estereótipos. Toda generalização é perniciosa e preconceituosa. Por quê? Porque é uma generalização. E seres humanos não podem e não devem ser generalizados. Somos todos únicos. Isso basta!   Eli, Eli, Lama Sabactani? Ou seja, Deus, meu Deus, porque me abandonaste?   O Livro de Eli nada mais é do que a Bíblia dita sagrada. Não é sem querer que o nome do personagem de Denzel Washington é “Eli”, que significa “Deus” em aramaico, a língua de Cristo na Palestina do século I (acredita-se). O filme é um guia, um manifesto. A terceira guerra nuclear, teoricamente, teria começado por culpa de um livro onde as “verdades” estariam escritas. Por isso, o tal livro foi queimado nos cinco continentes quando, na Terra, só

Catarse nº2

"Estranho... as pessoas falam comigo e eu não consigo me concentrar... E se consigo, algo oscila e eu me perco naquele segundo quando o chão sumiu e o centro da cidade ficou em silêncio..."