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Mostrando postagens de março, 2011

Porto Ensaio

A primeira vez que abri meus olhos, me peguei vagando por avenidas estranhas, repletas de carros reluzentes e casarões sombrios. E, apesar da fumaça espessa que ofusca o brilho dos prédios de uma rua sem praia, tudo é tão cálido, tão pálido, tão meu, que me fascina. Meu caso de amor começa assim, dentre praças e monumentos, catedrais, palácios, viadutos. E uma brisa calma que agita as águas daquele rio feito lago das lágrimas tristonhas da metrópole. Te amo tanto que, por vezes, te renego. Rumo para outros rumos em vão. Não te olho e não te sinto, na tentativa de te afastar de mim. Mas me pego sonhando contigo. E cada passo do meu caminho me leva de volta ao teu centro. Impossível esconder o desejo de rever teus detalhes, teus traços, teus largos. Tuas primaveras perfumadas e teus invernos de redenção. Tuas linhas que para sempre me envolvem nesse abraço frio e cinzento. Impossível abandonar o sentimento, apagar tuas cores, cobrir tuas formas. Tentar te esquecer. Porque o meu mundo

Aos que eu amo...

Existem dois homens que amo incondicionalmente, e que se completam. Se pudessem ser misturados num caldeirão, unidos, seriam “o homem perfeito”. Um é verborrágico e desmedido, o outro monossilábico e contido. Um irritável, o outro explosivo. Um solta gargalhadas espontâneas, o outro apenas sorri. São tão iguais e tão opostos esses dois homens. Um finca os pés na terra, o outro abre as asas ao céu. E, mesmo assim, se compartilham, se completam. Pudera eu tocá-los uma única vez. Saberia, enfim, que são reais. Tão perfeitos que se tornam juntos, poderiam ser o fruto colhido de minha imaginação. Tão especiais esses dois, que não sei qual é mais doce, mais terno, mais meigo, mais irreal. Quem dos dois é idealizado, quem dos dois é factual. Tão distantes esses dois homens, que se tornam um único eco, um único espectro, um único sonho. Tão silenciosos, que são a luz e a sombra, a brisa morna e a tempestade. Tão únicos que se tornam um. Tão especiais os dois homens que eu amo. Um

Por um abraço (2011)

Não, esse texto não é pra você! Se parecer que é, ignore. Se faça de morto! Mude de blog! Qualquer coincidência é mera semelhança. Do que essa louca maníaca está falando? De amigos! Parei pra pensar, dia desses, por que as pessoas nos fazem tanta falta. E fazem! Uma falta incrível. Relações humanas são prolixas, concordo. Valorizamos o contato até as últimas consequências. Alguns de nós, ao menos. Chego a me doer quando não consigo teclar com alguém de quem gosto ou quando ninguém responde um post. Sim, você leu certo. Teclar. Post. Descobri recentemente (mentira, eu já sabia) que meus melhores-grandes-necessários amigos são avatares inertes na claridade da máquina. Descobri que falo através das pontas dos dedos. Sou viciada em Internet? Não. Sou solitária. Sou aquela que não estabelece relacionamentos reais por pura falta de gente por perto. Aquela que toma para si os amigos da cara-metade e, quando a metade vai embora, tem-se que ajeitar amigos novos. Exagero, claro! Se n

O Beijo do Vampiro

Eu tenho, em mim, a necessidade de pouco. E esse pouco pode representar tanto a quem convive comigo, que se torna impossível suprir ou compreender. Dizendo isso, estou desculpando o imperdoável. Deliberadamente. Alguém que eu amo me disse “escrever é um sacerdócio, exige retidão, silêncio, calma, meditação, entrega absoluta”. Esse dar-se incondicional à dimensão das letras é o Beijo do Vampiro. O beijo que nos absorve, nos arrebata, nos faz perder a noção, nos faz gozar, nos suicida. Esse que eu amo está certo, em parte. Não somos monges na clausura, não somos retos, não somos únicos. Pelo menos, eu não sou. E descubro na dor da realidade que devo escolher entre o mundo real e o mundo da literatura. Devo escolher entre o arrebatamento orgástico e o respeitar a individualidade do próximo. Mas, pergunto, e quanto a minha individualidade? Devo mesmo resignar-me a abdicar da minha arte em prol do contento de alguém? Em prol do bem-estar do outro? Devo abrir mão de parte essencial de mim

Alma Vampira

Se pelos lados obscuros de cada alma pairasse uma sombra solene, andando sorrateira e entremeando soleiras escusas, dir-se-ia que uma e todas essas almas sofrem de um misterioso mal. Eu vos digo, entretanto, que o mal referido não temais. Posto que é o pulsar do vampiro, que espreita a mente e se derrama aos olhos. Virtude da morte que arde ao vislumbrar a caça, tórrido entorpecer dos sentidos. És, pois, vampiro, o pouco solene que permeia a mim. Parte de meu saber noturno, todo do escuro que perpassa meu ser. E se vós também sofreis da doce dor da falência da carne, se tendes dentro de vós a frieza do gelo da eternidade, erguei do túmulo dos dias esse vosso corpo cansado e vagai pela noite, pois sois também como eu. Um vampiro em busca do sangue, calma criatura dos séculos, que busca o prazer das luzes sem retirar o coração do breu.  

Amor e Morte

Peço licença pra divagar também. Quem de vocês já não sentiu aquele calafrio desavisado, aquele choque elétrico que acontece bem na boca do estômago e deixa você impotente, de pernas bambas e respiração entrecortada? E quem de vocês não sabe que isso se chama paixão? Pois, absurdo dos absurdos, o mesmo sentimento que esquenta, que alucina, que palpita, que deixa as bochechas vermelhas e os olhos molhados, aquele que faz tremer e suar as mãos, trava o raciocínio e coloca a todos nós, ingênuos mortais, em estado de graça... esse sentimento mesmo também nos é o causador de uma morte fria, dolorida, inevitável. Triste é a existência do apaixonado, que se consome solitário em devaneios seguidos de desejo, que beija o travesseiro e sente os próprios dedos como se fossem os do alvo de seus quereres. Pobres tolos apaixonados, derramando-se em deleite por um objeto sagrado, intocável por sua simples ignorância, desconhecido e idealizado a cada segundo. Atirem a primeira flecha aqueles que nu

Frêmito

Antes... O sol a escorrer pela curva dos seios. O corpo trêmulo de desejo e ânsia. Fogo e gelo a lamber os poros. Choques elétricos ao abraço do vento. Leves teias pairando diante dos olhos. O torpor da mente e o latejar da alma. Cálido esperar pela chuva, reconfortante arrebatamento. O evaporar das marés, o pulsar da terra. Durante... Terremotos rugindo trovoadas subterrâneas. O sangue fervendo nas veias, nas têmporas. O aço que sustenta a vida e a vida escoando tal qual lava. O rasgar do tempo, o desnudar do ventre. Suor vertendo em pecado, derramando bênçãos. Deleite de leitos rasos varridos por tempestade. Eletricidade, explosão. Depois... Silêncios sonolentos de ouvidos mudos. Uma delicada aridez, quase glacial. A pele úmida, arfante. Aroma das noites de outono. Unhas e cabelos dormentes. A consciência que vagueia, bêbada, em direção ao lençol de luar. Sorriso com gosto de sal. Êxtase sonâmbulo no limiar do desfalecimento. Ausência.

Amante

Eu ouço você dizer que me deseja, como me deseja, o quanto me deseja. Eu vejo você repetir que me ama, de que maneira me ama, e por quanto tempo ainda vai me amar... Mas será que você está pronto pra mim? Pronto pra ser o que eu preciso que você seja? E eu preciso muito de tanto... Você tem medo? Eu também tenho. Tenho medo de te medo de perder você. Tenho medo de ter medo de querer você. Tenho medo de mim mesma. Será que você está preparado, ou mesmo disposto, a ser realmente meu? Você vai estar preparado quando eu exigir que você me dê tudo aquilo que o mundo não me dá? Vai ao menos tentar? O que eu quero não é muito, mas é tudo. Quero alguém que me veja inteira. Não um par de peitos, não um cérebro pensante, não uma fonte de alimentação ou de alucinação. Quero alguém que me permita ser burra, ser feia, ser nada. Quero alguém que me engula e que me saboreie. Quero alguém que me inspire e que me cale. Quero alguém que me assuste e me acalente. Quero alguém que devore o meu corpo co