Porto Ensaio

A primeira vez que abri meus olhos, me peguei vagando por avenidas estranhas, repletas de carros reluzentes e casarões sombrios. E, apesar da fumaça espessa que ofusca o brilho dos prédios de uma rua sem praia, tudo é tão cálido, tão pálido, tão meu, que me fascina.

Meu caso de amor começa assim, dentre praças e monumentos, catedrais, palácios, viadutos. E uma brisa calma que agita as águas daquele rio feito lago das lágrimas tristonhas da metrópole.

Te amo tanto que, por vezes, te renego. Rumo para outros rumos em vão. Não te olho e não te sinto, na tentativa de te afastar de mim. Mas me pego sonhando contigo. E cada passo do meu caminho me leva de volta ao teu centro. Impossível esconder o desejo de rever teus detalhes, teus traços, teus largos. Tuas primaveras perfumadas e teus invernos de redenção. Tuas linhas que para sempre me envolvem nesse abraço frio e cinzento.

Impossível abandonar o sentimento, apagar tuas cores, cobrir tuas formas. Tentar te esquecer. Porque o meu mundo te compõe. Busco por ti em cada beco, em cada rosto. Tento te trazer comigo e te recrio aonde quer que eu vá.

Mas, é só quando volto a te olhar de frente que te encontro em mim, meu aconchego. Pois, te domino e te pertenço, meu pedacinho de espaço. Meu canto, meu sonho, meu porto. Meu eterno ponto de partida. Minha chegada. Quase sempre oculta, quase sempre distante, quase triste. Mas sempre perto, sempre minha, Porto Alegre.

(Texto originalmente produzido para o curta-metragem em super-8 “Ensaio”, de Alberto La Salvia, 1999)

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