Por Um Abraço

A pouco mais de cinco anos, uma noite dessas seria um convite à navalha. Àquela sensação reconfortante de vazio, de que o nada poderia ser meu. Enfim... Em outros tempos, outra vida, a vida não seria empecilho. Em outros cantos, outras mortes, a morte seria bem-vinda. Eu sei, eu sei. Difícil entender um instinto suicida... Não liguem. Essa sou apenas eu.

O fato é que, agora, este exato momento, revivo a sensação de quando a navalha estava tão próxima. Estranho sentimento, pois nada no mundo poderia me matar agora. Não mais. Já não sou assim. Tenho pelo que viver. E vale a pena cada dia.

É exatamente por isso, por ter abdicado conscientemente de meu lado funesto que, agora mesmo, sinto que algo não se encaixa. Eu não deveria – não poderia! – me sentir como na época da dor... Ou deveria?

O que eu sei é que, quando se é um solitário por opção, o nada faz companhia. A gente acostuma a estar só, mesmo cercada de gente. Entende? É, sei que entende. E é fato que essa solidão faz bem pra nós... Nós, os solitários.

Mas, tudo muda. Há cinco anos, um pouquinho mais, descobri que a vida era melhor do que a sombra constante da morte. E achei, sinceramente, que a fase da tristeza havia acabado. Sim, sou feliz! Sim, sou completa. Sim... estou viva.

E se é assim, por que me sinto agora tão triste quanto – Não! Mais triste! – na época em que flertava com a morte? Como pode, depois de tudo, a tristeza me pegar desse jeito tão certeiro? Como pode um simples fim de semana mudar tudo? E tudo muda...

Perguntas, perguntas... Mas eu respondo. Dessa vez, tenho as respostas. Pela primeira vez, que eu me lembre, não estou sozinha porque quero. Não é opcional. E daria qualquer coisa por um abraço, um sorriso. Um afago que ficou distante. Dois mil quilômetros distante de mim.

Eu que sou dona do mundo, eu que sou melhor do que a morte, agora sinto falta de um amigo. Um único amigo que me faça menos solitária do que estou. E a presença da sombra a rondar agora me apavora. Não a quero mais.

Difícil isso de depender dos outros. Tinha me curado desse mal. E agora... Agora sofro como nunca antes a ausência de quem nem mesmo – talvez – sente a minha falta. É, tenho medo de não ser importante pra eles como eles são pra mim. Nem sei se sabem que são. Importantes.

Não sei se sabem do meu lado tristeza, do meu lado abandono, do meu lado carência. Me deixei abater. Baixei a guarda. Voltei a amar pessoas... Culpa deles, esses que estão tão longe. Esses que nem sequer sabem o quanto eu preciso de cada um, de um. Abraço.

Esqueçam. Isso passa. É só dor. Só ausência.

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