Carta Para Meus Amigos

(Hoje vim só para um rápido desabafo, um necessário mea culpa, uma tentativa de resgate. De mim.)

Sei que é difícil me enxergar. Sei que é difícil querer ver mais do que mostro. E sei que a culpa me pertence. Me resguardo ao ponto da máscara. Isso é fato. Sou várias de mim. Sou exatamente o que cada um quer ver. O que cada um precisa. Preciso ser assim. Sou, talvez, uma mentira. Ou muitas.

Mas, de fato, não me vejo. E não me veem. Sou pedra que perdeu o viço. Sou brilho que perdeu a aura. Sou aquela sombra que segue ao lado. E só sou vista quando querem, os meus, ver a si mesmos. Pelos meus olhos, sempre plácidos.

Falta que me enxerguem. Falta que me sintam. Falta que sintam falta de mim.

Mas, de fato, é minha máxima essa culpa. Sou eu quem me faço sombra. Sou eu quem me faço ombro, ouvido, abraço. Até que escorrego no ego que se desbota na calçada. Até que o tombo se torna inevitável.

E é pelo sangue que escorre da ferida aberta que me sinto a mim. Eu mesma, sem máscara. E sinto que não sou sentida. Que não sou ego, sou eco. Um som surdo a pedir ajuda, atenção, completude. Atitude. Nada além.

Falta querer. Falta cuidado. Falta um lado que me faça visível. Falta alguém me amar.

Sei que é difícil. Eu sei. Amar a pedra é tarefa insalubre. Requer a habilidade de se deixar ver. E só no escuro da madrugada a luz é tão pura que reflete sem máculas a solidão de cada rosto. Irresistível ficar na penumbra.

Mas, de fato, assumo toda a culpa e me perdoo. E perdoo tudo. Perdoo o descaso, a maldade, o egoísmo, o desuso. Perdoo na ilusão de que me perdoem pelo que vier. Pelo que virá. Porque, uma vez pedra, pedra eternamente este ser será.

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