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Mostrando postagens de dezembro, 2012

Midas

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As mãos ásperas na pele medrosa. A mão que bate, que afaga, que aperta. Que deixa a digital no corpo alheio, marca território, reivindica para si tudo que toca. A mesma mão que esconde a boca e prende o gemido frágil, arrebatado, entregue. Acordo sem respirar. Ainda a sensação das mãos dele em mim. Um sentir de dedos entrelaçados, de mãos dadas. Um frenesi na lembrança das mãos que me trazem mais perto do abraço. Que me encerram sem esforço algum. Foi um sonho? Uma alucinação? Foi o inventar de um personagem tão real que deixa de existir quando se abre os olhos? Suspiro e percebo que essas mãos têm um rosto, um corpo, um cheiro. Não importa. Tudo já some como o toque da brisa. Como o toque de Midas. E viro estátua de ouro, enquanto tudo desaparece da mente. Todo sonho finda ao pestanejar realista da manhã... E o que fica não é a cena, não é a trama, não é desfecho. É vontade de adormecer outra vez e me deixar possuir por aquelas mãos ásperas só mais um segundo. 

Trópico de Câncer

E havia a pedra bruta na beira do rio. A pedra dura e insensível que cuidavas do leito e das águas. Que cuidava de tudo, menos de si. Que regrava tudo ao redor. E o rio corria límpido, caudaloso. Corredeiras e encostas formando a paisagem virgem. E a pedra ali, cuidando de tudo. Até que, um dia, um homem surgiu das águas. Um homem desenhado pelos símbolos do oculto. A pedra o viu surgir sem poder fazer nada. E ele veio nu e vigoroso. Deitou-se sobre a pedra e suspirou ao sol. E a pedra, imóvel, pôde ver cada fenda. Pele, pêlos, músculos, suor. E a pedra rendeu-se à beleza daquele homem, como se ele fora o mais radiante raio do astro rei. O semblante dele fazendo brilhar a paisagem intocada. A respiração ritmando o universo. E aquele corpo nu despertou desejo. Tamanho era aquele calor, aquela libido, aquele fogo. E a pedra cedeu e derreteu-se... Amou aquele homem como a lua ama o sol. E o corpo dele correspondeu ao milagre, deitando seiva sobre a rocha inerte. Foi quan

Os Anjos São Maus

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Conta a lenda que a Guerra no Céu se deu entre duas facções de anjos. Uma que odiava os homens, outra que nos amava. A verdade, senhoras e senhores, é que todos os anjos desprezam humanos. A turma que defendia a humanidade só o fazia por obediência a Deus e à espada ameaçadora de Miguel. Se a guerra acabou e quem a venceu, isso eu já não sei. Só sei que os anjos, ao contrário do que todos imaginam aqui no chão, são maus e vingativos. E, vez em quando, decidem brincar conosco. Assim, só por maldade mesmo. Do nada, quando você menos espera, um anjo cruza o seu caminho. E nos olhos do anjo você vê o sentido da vida. Da sua vida! E é claro que você vai se apaixonar por ele, por ela – anjos assumem o sexo que querem, você sabe. Então, como mágica, você é feliz nos olhos do anjo. Naquele sorriso perfeito, naquela voz que te faz flutuar. Sorte sua se ele tiver tempo e disposição de “brincar” com você por mais do que um momento. Pois o que vai acontecer é inevitável. Quand