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Mostrando postagens de outubro, 2013

Dia das Bruxas

No princípio, noites de fogueiras nos definiam. Beltames e Samhains. Antes, éramos as matriarcas livre e tínhamos, em nossos ventres, o poder da magia. Antes de tudo, éramos nós a própria encarnação da Deusa. Dançávamos invernos e fertilizávamos primaveras. Éramos as bruxas. Pouco depois, éramos as máquinas de fabricar homens. Puras parideiras, nada éramos além de esposas fiéis, mães dedicadas. Mas também éramos as que sabiam das curas, dos unguentos, das feitiçarias. Éramos nós o esteio e o alicerce da sociedade patriarcal, patrícia. E não éramos livres. Nem tínhamos voz. Depois... era novamente o fogo. Não o das flores e das danças de fertilidade. O fogo pútrido e mentiroso dos homens vestidos de negro. As fogueiras ardiam em praça pública e queimavam nossa carne dilacerada na tortura. Éramos indignas, impuras. Éramos noivas do demônio. Feiticeiras. Hoje... hoje somos chamadas feministas, agressivas, dominadoras. Hoje, talvez assustemos mais do que na era das tochas

Por quê?

Eu tenho uma pergunta. Por que o mundo se torna mais colorido quando você está por perto? Por que tudo muda de forma? Porque cada partícula de pó fica tão bela?... Imagino? Não. Creio que não. Apenas observo a alteração dessa minha realidade cinzenta. Essa realidade que você colore feito aquarela. Pergunto. Você responde. Por que estou sempre sorrindo ultimamente, mesmo quando teu sorriso se esconde? Basta que você erga esses olhos castanhos na minha direção e me pego risonha. Sou boba? Não, não creio. Sou reflexo do que você faz comigo. Essa vontade crescente de sorrir sempre. Felicidade? E a incógnita persiste. Você me ajuda a desvendar? Por que me sinto tão segura na sua mão, no seu abraço? Por que me arrepio com a sua boca no meu pescoço? Por que esse seu cheiro doce não sai de mim? Será feitiço? Será outra coisa? Será que cada um de meus átomos já sabe chamar o seu nome? Será?... Será, meu amor, que não sei mais ser eu mesma sem você? Será que não me sou mais sem

Infinito Imortal

Meus passos, eu sinto, são mais firmes ao seguir os teus. Meu caminho é mais reto. Essa estrada, ao teu lado, mais segura. Menos íngreme é a encosta da montanha que nos recebe para descortinar miríades de estrelas. Mais belo o pôr do sol refletido nas águas mansas do rio... Assim, entrelaçando meus dedos nos teus, sei que minhas mãos são capazes de alcançar o espaço entre mundos. Assim, encostando a fronte em teu peito, o pulsar sereno de teu coração me acalma. Tua paz é a minha paz, e minha agitação se recolhe ao contemplar tua serenidade... Ritmos calmos emanam de ti como se essa tua energia fosse música. Teu abraço acolhedor é meu porto mais seguro e meu ponto de partida rumo a tantas utopias. Tua vontade, minha sina. Cada imagem que capto de ti, uma nova e revigorante fonte de inspiração. Tua ausência é a causa única da minha saudade. Vontade infalível de que o relógio corra mais que o tempo e te traga de volta para mim. Tua essência é meu néctar, minha pedra filos

O Limiar do Sonho

As fronteira da capacidade humana de amar são exímias ocultadoras de sentimentos. Essas linhas invisíveis são verdadeiros campos de força, programadas que são para desintegrar todo e qualquer ansiar meramente vulnerável. Como se o amor vivesse numa redoma vítrea, imaculado e puro. Como se soldados bem treinados guardassem o núcleo do coração dos males sórdidos do mundo lá fora. Bem equipado é o maquinário de defesa do amor. Sistemas intransponíveis rastreiam cada polegada do perímetro da cerca anti-sentimento. Somente os bons e inofensivos afetos passam pela vigilância e têm, quem sabe, permissão de se estabelecer por tempo determinado... ou para sempre. Mas todo sistema tem falhas, até os mais complexos. E a falha das defesas do amor é o sonho. Sim, o sonho. Esse que vagueia livre e infalível, esse que é o próprio pensamento inconsequente. Esse sonhar contínuo carrega em si mesmo o legitimar sentimental de qualquer querer, de qualquer desejo. E invade, liberto e flutuante

A Gêmea Má

Parece que dentro de mim há travada uma guerra sem trégua. Parece que dentro de mim a batalha campal se estende por além dos limites terrenos. Hora fogos de artifício, hora bombas de nêutron. Hora paus e pedras, hora o estremecer matraqueante da metralhadora. Parco é o tempo em que o inimigo dorme. Parca é a folga quieta da retirada das tropas. Volta sempre a horda furiosa de um só a caçoar de mim. A risada dela permeando meus pensamentos estreitados. Invadindo ideias e espalhando o veneno do entorpecimento. Já não me guardo. Não há fuga. Cada benevolente decisão tomada, cada obviedade descrita e praticada, lá está a outra a sacudir-me pelos ombros, a gritar-me na mente. Lá está aquela igual a mim. Meu lado perverso, a parodiar minhas tentativas inutilizadas. Um passo adiante, dois retrocedem. E sempre cedo. Ela é forte e eu não tanto. Resta o embate fatal diário. Resta o sangue escorrido de mim para ela, dela para mim. Restam as veias que latejam nos olhos fundos dum

O Mago

O consolo dos tempos instáveis repousa sob o intento inabalável do mago. A salvação do corpo e do espírito depende da boa vontade do mago. Só dele é o poder de aliviar a dor da alma fria do mortal incauto. Só dele é a dádiva da cura. O mago é sinistro e taciturno. Pouco sorri, semblante de pedra forjada no calor da lava. Olhos ameaçadores, permeados pelo brilho do aço, a intimidar quem ousa mirá-lo de frente. Frontes baixas diante do mago. Pois só dele é o poder de ver. A cúpula noturna é o manto do mago, rebordado de estrelas fugidias, de constelações e signos. O mago se veste de zodíaco. É dele a sabedoria dos astros. Nas mãos suaves do mago repousam o futuro e o destino. O digladiar de luz e sombra habita as mãos do mago. Só ele é a fonte do conhecimento. A consciência da águia habita a mente do mago. Sua voz serena, um mantra abismal. Sua postura tensa, o carvalho secular. Seu magnetismo lascivo a atrair neófitos e vassalos. Seu coração... sim, o mago tem um coraçã