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Mostrando postagens de abril, 2014

Minha Mãe - Parte 3

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Estou pulando eventos, é claro. Isso não é um diário de mim. Falo de coisas marcantes e, por vezes, posso até me perder nas linhas do tempo... Lembro de meu avô Araby e sua capa de exército... lembro das rapaduras feitas no taxo por minha avó Rodhe. Os pastéis da Dadada... o pé de caqui no quintal (ou pátio, como a gente chama aqui no sul). Lembro do vô José e sua passividade contagiante. E lembro que eu fui a única a “tocar” aquele violino. Lembro da vó Adir... sem comentários sobre ela, só mais tarde. O que interessa é que fui crescendo num ambiente de brigas e rusgas. Aprendi a brigar bem! Ninguém me ganha numa discussão! Quando meus pais se separaram, pra mim foi normal, foi bom. Não tive traumas nem fiquei com sequelas... sou a típica filha de divorciados, independente e arredia. Nesse processo, duas pessoas cruzaram o meu caminho (eu tinha 6 anos). Duas figura muito distintas e com papéis incrivelmente diferentes. Vou parar aqui pra fazer um apontamento! A Madrasta!!

Minha Mãe - Parte 2

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Talvez eu devesse começar pelo começo... eu nasci 18 meses após minha mãe e meu pai se casarem (com véu, grinalda e tudo)... Naquela época, não havia ultrassom nem fralda descartável. Minha mãe sofreu um aborto espontâneo aos 3 meses de gravidez. Ao ir ao médico (ainda bem que foi), descobriu que ainda estava grávida... era eu. Sou persistente. Nasci. De cara, meu pai abandonou o leito conjugal e passou a dormir no quarto do meu tio e padrinho (solteiro que esse era na época). Ele não gostava de choro de criança. Começamos bem, meu pai e eu... Enfim... fui crescendo... Minha primeira lembrança, a mais antiga, é de minha avó e minha tia (a Dadada, pra quem teve o desprazer de conhecer!). Essas duas efetivamente cuidavam de mim... Bom, o que eu sei – o que pude deduzir – é que minha mãe não foi talhada para ser mãe. Tipo, trocar fraldas, passar noites em claro, amamentar e padecer no paraíso. Eu sei porque fiz tudo isso! E amei fazer, sinto saudade, caso alguém pergunte.

Minha Mãe - Parte 1

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Minha intuição me diz que devo falar sobre minha mãe. Faz tempo, já, que sinto essa necessidade. Mas o pudor e a decência me tranam. Afinal, não se deve falar mal dos mortos. Não é mesmo? Quando comecei esse blog, anos atrás, nada tinha em mente além de relatar verdades sobre mim mesma. E fiz isso. Afinal, catarses são lembranças, sinapses, conexões, revelações. Catarses sã maneiras de deitar a público o que vai na alma. E tenho feito isso a contento. Entretanto, não há como falar sobre minha mãe sem dor e sofrimento. Não há como convidar à leitura de um texto tão caustico. Mesmo assim, ainda tomo coragem para narrar a pior parte dessa minha atual existência. Afirmo que é a pior, pois algo em mim grita que o fato de ter sido filha dela me gerou tantos bloqueios, pontos cegos, traumas ou o que seja que vocês decidam chamar. Alguns vão ler essa série de textos absurdamente catárticos e vão saber... Vão saber que são verídicos porque estavam lá. São testemunhas oculares, cúmp

Nas Pontas dos Dedos

Sei bem que não posso querer de ti mais do que uma leve brisa de saudade. Sei, conscientemente, que jamais te terei ao alcance das mãos. Sequer das pontas dos dedos. Pois foges, esquivas-te para não sofrer desse mal que me acomete. E que é contagioso. A praga mais terrível de todas já é dona dos meus sentidos. Não há cura, nenhum placebo. E te proteges. Quem sou eu pra te recriminar por esse resguardo? Já que sei o que sofro e o que dói e o que judia de minha pobre carne essa febre...                                                                                                                          Mas, estás seguro até certo ponto, meu amor. Pois que o vírus desse mal harmônico já te atinge as células mais superficiais. Si, já sentes o tremor, o arrepio que desfalece. És mais um dos enfermos do mal do milênio. De todos os milênios. Ainda assim, sente-te seguro. Eu aqui estou para cuidar de ti. Mesmo que eu pereça, mesmo que eu sucumba, nada me impedirá de estar aqui

Lágrima Ácida

Já não há na alma sulco tão fundo. Não há abismo mais negro, veneno tão mortal. Já não há no peito dor tão lancinante. Não há noite mais sinistra, ferida tão podre. E a tal mal irremediável, alguns inocentes aprendem a chamam amor. Amar é o incendiar eterno dos sentidos. E esse queimar é doloroso. Camões já escreveu. Mas ele estava errado quando disse “não se sente”. Não há possibilidade de passar pelo amor sem sofrer, sem derramar sangue das veias dilaceradas. Mesmo que tudo pareça com a pérola perfeita da ostra, o brilho que nos vai aos olhos vem do aço afiado das garras das fúrias. Enlouquecemos, mesmo que calmamente, e entregamo-nos a uma felicidade que não existe, a não ser em nossa vontade. Algo será, algo haverá e o lindo brilho da adaga perfurará o coração, o orgulho, a verdade. Maculada a aura sublime, o que restará deste dito amor? Eu respondo. Resta aflição, angústia, ansiedade, insegurança. Resta dor. E por mais que ainda se ame – pois o coração e a mente s

Abalo Sísmico

Amanheceu monótona e normalmente. O sol dourou a torre do relógio antes de banhar o resto da cidade. A torre quadrada, da altura de quatro casas, vigiava e se impunha diante da cidade rasteira. Os ponteiros que nunca atrasavam, marcavam 6h32 da manhã. Ao redor da torre, os ruídos triviais despertavam. Pássaros, carros, crianças, buzinas, máquinas. E o dia seguiu sob a mira do redondo relógio quase branco no topo da torre quadrada de pedra gris, virado para o leste distante. Até que, repentinamente, o som parou. Por poucos segundos, não houve barulho ou vento. Veio a onda, a avalanche invisível. A terra tremeu e apavorou, rugindo mais alto do que qualquer motor. E parou tão súbito quanto começara. Também demorou alguns segundos para que tudo virasse histeria lá embaixo, por entre as ruas de casas rasas. Os ponteiros pretos de ferro fundido marcavam 11h55 da manhã quando o pânico pareceu amainar. Só um abalo sísmico. Nenhum dano aparente. E o meio-dia passou sem fome, e a ta