Dormência

Não escuto, não vejo, não sinto...?

Me dei conta agora mesmo... faz tanto tempo que não ouço música. Nenhuma de minhas favoritas. Nenhuma das outras. Música nenhuma. Um espaço vazio e silencioso aqui debaixo da pele. Um quase buraco negro, uma anã marrom... pesada, fria, invisível.

Invisibilidade é o que me causa a falta de música. Porque a sonoridade, mesmo não sendo a minha arte, me acompanha na intenção artística. Em língua de gente, eu crio com música, eu me sinto bem com música. A pergunta é, porque então faz tanto tempo que estou em silêncio?

Eu sei a resposta. A resposta vai e volta. Chega, se assenta e amortece o meu entorno. Ocupa o lugar da música, da arte... ocupa todos os espaços, se esparrama e me ocupa os sentidos. Aí, de repente, surta, se estressa, some. E quando a resposta vai embora, a música volta.

E com a música, volta a criação, a criatividade, a sensação de reencontro com algo que estava aqui, mas estava perdido. Tantas vezes esse vai e volta, tantos resgates e desistências, que a força da resposta perde a força. E já não dói quando ela vai embora, insensível, ofensiva.

Assustador isso... esse não doer, quase não ligar. E testar a distância... e descobrir que a distância tanto faz, já não importa. Reconfortante saber que a música ainda espera por mim, quieta e pronta a renovar meu colorido tão desbotado. E as idas e vindas da resposta não merecem outro retorno, outro contexto, outro perdão...

Mereço eu a complacência da música e desse texto que sai depois de tanto tempo de uma eu amortecida, amortizada, morta... Uma de mim quase estranha, essa que não ouve, que não vê, que já quase esqueceu de sentir. Dessa, de quem a resposta tanto se apossa, eu não gosto. Prefiro minhas músicas.



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